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Dr Per Alm - Informações a respeito de gagueira com suspeita de ser causada por infecção por estreptococos do tipo A

07/12/2023

 

Informações a respeito de gagueira com suspeita de ser causada 

por infecção por  estreptococos do tipo A

Per A. Alm, PhD
Communicative Sciences and Disorders, New York University;

Uppsala University, Sweden 

[email protected]; [email protected]; [email protected]

Tradução: Dra Anelise Junqueira Bohnen

 

 

O QUE FAZER QUANDO SE SUSPEITA DE UMA GAGUEIRA RELACIONADA COM 

ESTREPTOCOCOS DO GRUPO  A (GAS)?

 

A. Sobre a gagueira causada por infecção estreptocócica


          Foi recentemente estabelecido que a gagueira pode ser um efeito da infecção por estreptococos do grupo A (GAS). O mecanismo seria que uma reação autoimune afeta moléculas relacionadas à automatização da fala, nos gânglios da base.  O artigo principal foi publicado por Per Alm e pode ser baixado aqui:  https://bit.ly/34lkXQW

Isto ocorre paralelamente aos movimentos involuntários observados na Coreia de Sydenham (“Dança de São Vito”), que compartilham este mecanismo: uma reação autoimune desencadeada pela infecção por GAS, afetando os gânglios da base. 

          Ainda outro distúrbio que compartilha esse mecanismo é o PANDAS, “Distúrbios neuropsiquiátricos autoimunes pediátricos associados a infecções por estreptococos”. Esta é uma síndrome que afeta crianças pré-púberes, com sintomas como ansiedade excessiva, problemas alimentares, medo de germes, déficit de atenção, acessos de raiva, entre outros.

          A incidência de gagueira causada por infecções estreptocócicas foi fortemente reduzida em meados de 1900, após a introdução da penicilina para o tratamento da amigdalite. Ainda há muito que aprender sobre o estado atual, mas há indicações de que esta condição voltou a ser mais frequente, uma vez que o número de infecções graves por GAS tem aumentado durante a última década, a nível global, o que em parte pode ser um efeito de mais políticas restritivas ao uso de antibióticos

 

B. O paralelo com PANDAS. Links para informações

          O diagnóstico e tratamento da gagueira causada pela infecção por GAS ainda não foi completamente pesquisado, mas pode-se esperar que os mesmos princípios do PANDAS possam ser aplicados. A gagueira causada por infecção estreptocócica pode aparecer com ou sem sintomas de PANDAS.

Informações gerais sobre PANDAS podem ser achadas aqui: 

  • Breve informação sobre PANDAS da  NIH, USA:

 https://tinyurl.com/mrdpv4bp

                          Carta de informação para profissionais da saúde  sobre PANS PANDAS e o        

                          aumento de infecções por GAS no Reino Unido: https://tinyurl.com/y6m39c5a 

                          Diretrizes para diagnóstico e tratamento de PANDAS  publicados em 2017, pelo 

                           PANS/PANDAS Research Consortium, www.pandasppn.org :

  • Cooperstock, M. S., Swedo, S. E., et al., for the PANS/PANDAS Consortium (2017). Clinical Management of Pediatric Acute-Onset Neuropsychiatric Syndrome: Part III—Treatment and Prevention of Infections. Journal of Child and Adolescent Psychopharmacology 27, 594–606. doi:10.1089/cap.2016.0151.

  • Frankovich, J., Swedo, S., et al., for the PANS/PANDAS Consortium  (2017). Clinical Management of Pediatric Acute-Onset Neuropsychiatric Syndrome: Part II—Use of Immunomodulatory Therapies. Journal of Child and Adolescent Psychopharmacology 27, 574–593. doi:10.1089/cap.2016.0148.

 

C. Diagnóstico de gagueira causada por infecção por GAS

  • A gagueira causada pela infecção por GAS pode aparecer com ou sem sintomas de PANDAS.

  • Não existe exame laboratorial específico para diagnosticar PANDAS, ou gagueira causada por GAS. PANDAS é principalmente um diagnóstico clínico, feito pela avaliação dos sintomas e pelo tipo de início dos sintomas.

  • As infecções por GAS que resultam em reações autoimunes podem ser assintomáticas (Cooperstock et al 2017). Também devem ser consideradas infecções cutâneas por GAS, por exemplo, perianal.

  • Os testes para infecção estreptocócica são valiosos, mas não conclusivos.  

 

Visão geral dos testes para infecção por GAS:

  • Cotonete de garganta com teste rápido de antígeno estreptocócico:

Um teste rápido de garganta positivo para GAS fornece suporte importante para a hipótese de gagueira causada por infecção por GAS. No entanto, um teste negativo não fornece informações de valor, devido à baixa sensibilidade.

Rápido, mas insensível (frequentemente não detecta infecções).

  • Cotonete na garganta com cultura: Exame de sangue para antiestreptolisina O + anti-DNase B:

Os anticorpos sanguíneos são uma indicação tardia de infecção por GAS. Demora de 1 a 2 semanas para que os anticorpos comecem a aumentar, portanto, geralmente é negativo na faringite aguda por GAS. Pico após cerca de 6-8 semanas.

Altos níveis de anticorpos no sangue mostram uma infecção por GAS em andamento ou recente. Porém, deve-se ressaltar que as infecções por GAS sem complicações são bastante frequentes na sociedade.

A ausência de anticorpos, mais de duas semanas após o início esperado, sugere que não há infecção recente por GAS.

Sensibilidade de 90-95% para amigdalite (não para infecções de pele).

  • Se a gagueira claramente melhorar com antibióticos, isso é uma forte evidência da origem bacteriana da gagueira, presumivelmente GAS. Normalmente, esta melhoria da gagueira é mostrada claramente dentro de 2 semanas, se houver uma infecção contínua por GAS relacionada à gagueira.

  • Paralelamente ao PANDAS, a gagueira causada pelo GAS pode provavelmente continuar também após o término da infecção desencadeadora, especialmente se tiver perdurado por um longo período de tempo. 

Isto pode ser um efeito de uma reação autoimune contínua.

 

D. Tratamento como diagnóstico (anti-inflamação) 

  • Caso se suspeite que seja este o caso, pode-se tentar um breve período de tratamento anti-inflamatório, para verificar se a gagueira diminui (em paralelo com PANDAS, ver Cooperstock et al, 2017).

  • Por exemplo, dose completa de ibuprofeno ou naproxeno por duas semanas, ou um breve período com altas doses de corticosteróides.

  • Nota: Teoricamente, existe a possibilidade de que os corticosteróides possam melhorar a gagueira devido a um efeito ativador geral no sistema motor da fala, tornando esse teste menos conclusivo.

E. Triagem para gagueira relacionada à infecção por GAS

Triagem preliminar  (em inglês) para gagueira relacionada com GAS, por ser baixada:

https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnhum.2020.569519/full#supplementary-material  

 

F. Tratamento de GAS e/ou PANDAS relacionados à gagueira: Antibióticos

As diretrizes de tratamento para PANDAS propõem que o tratamento anti-estreptocócico seja iniciado em todos os casos recentemente diagnosticados, mesmo que uma infecção em curso não possa ser confirmada (Cooperstock et al. 2017).

As indicações de infecção por GAS apoiam a decisão de tratar com antibióticos.

A primeira escolha de antibióticos é normalmente a penicilina V, de espectro estreito, como a fenoximetilpenicilina. Se a gagueira for inicialmente reduzida pelos antibióticos, mas esse efeito diminuir, com o aumento da gagueira, considere trocar os antibióticos. Por exemplo, amoxicilina ou antibióticos macrólidos, como a claritromicina.

 

G. Tratamento de GAS e/ou PANDAS relacionados à gagueira: Anti-inflamação

As diretrizes de tratamento anti-inflamatório (Frankovich et al. 2017) diferem dependendo da gravidade dos sintomas e envolvem principalmente: 

  • medicamentos anti inflamatórios não esteróides, AINE: ibuprofeno ou naproxeno (possivelmente com Omeprazol, se houver problemas estomacais) 

  • corticosteroide - imunoglobulina intravenosa (IVIG)

Dosagem de AINE (Frankovich et al. 2017):

  • Ibuprofeno 10 mg/kg a cada 6-8 horas, ou

  • Naproxeno 10 mg/kg a cada 12 horas.

 

H. Informações sobre PANDAS

 

Apoio dos cuidados de saúde em relação ao PANS/PANDAS no Reino Unido?

Outras possibilidades: Entre em contato com um especialista para discutir a preocupação. No entanto, note que o conhecimento sobre PANDAS ainda é recente e pouco difundido, e este é particularmente o caso da ligação entre GAS e gagueira.