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Componente de inseticida pode causar gagueira - 1

Homem pulverizando inseticida em plantação
13/04/2020

Caso jurídico

Recentemente, a empresa americana Monsanto foi responsabilizada judicialmente pela intoxicação de um agricultor francês.


O acidente ocorreu em 2004. O agricultor inalou o inseticida Lasso ao abrir o contêiner de um pulverizador. Diversos sintomas iniciaram logo após a inalação do inseticida: náuseas, vertigem, dor de cabeça, perda de memória e gagueira. O tratamento de desintoxicação foi iniciado logo após o acidente. Entretanto, um ano depois do ocorrido, análises bioquímicas ainda mostravam traços de monoclorobenzeno, um solvente que compõe o inseticida Lasso, na urina do agricultor.

O inseticida Lasso não é comercializado no Canadá, na Inglaterra e na Bélgica e, desde 2007, também está proibido na França. O tribunal francês entendeu que a empresa Monsanto deveria ter advertido sobre os riscos de inalação do produto e sobre a necessidade de se utilizar máscara de proteção ao manipulá-lo. A Monsanto foi condenada a pagar indenização ao agricultor pelos danos causados à saúde. O agricultor atualmente está aposentado por invalidez.

Monoclorobenzeno e seus efeitos na saúde

O mononoclorobenzeno é um agrotóxico da classe dos organoclorados.

Os organoclorados são derivados do petróleo, compostos à base de carbono com radicais de cloro. Este tipo de inseticida já foi muito utilizado na agricultura, mas vem sendo cada vez menos utilizado, porque sua degradação é muito lenta (por exemplo, podem ficar acumulados no solo por até 30 anos e em seres vivos por vários anos). Assim, o ser humano pode ser contaminado não apenas pela exposição direta ao inseticida, mas também pela cadeia alimentar.

Os organoclorados podem ser absorvidos pela pele, pela respiração e pela via digestiva. Pelo fato de apresentarem carbono em suas moléculas, não são solúveis em água, apenas em gorduras. Por isso, no corpo humano, acumulam-se em órgãos que tenham células adiposas (como o tecido adiposo, o sistema nervoso, o fígado e os rins). A eliminação é lenta e ocorre pela urina.

No sistema nervoso, os organoclorados atuam como estimulantes. Podem ocasionar uma série de sintomas neurológicos. Os sintomas incluem tonturas, desorientação, formigamento, tremores, incoordenação motora, fraqueza muscular, dor de cabeça, irritabilidade, insônia, convulsões, coma e morte. Esses sintomas podem ser temporários ou permanentes. Até onde sabemos, este é o primeiro relato de gagueira por intoxicação de monoclorobenzeno. A cronificação dos sintomas neurológicos deve-se à presença do organoclorado em células adiposas do sistema nervoso (principalmente na bainha de mielina dos neurônios).

Referências bibliográficas

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. (1996). Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos. Brasília.
PORTAL TERRA. (2012). Monsanto é culpada por intoxicação de agricultor na França.
ITHO, S. F. (2012). Intoxicação por agrotóxicos: inseticidas organoclorados. In: Toxicologia Aplicada.